Reversão em Nova York pressiona ETF EWZ e moedas ligadas ao real

Foto do autor

Por Jhonatan Santos

Uma recuperação das bolsas nos EUA gerou turbulência para ativos ligados ao Brasil: o ETF EWZ, referência para ações brasileiras em Nova York, sofreu perdas, enquanto moedas de países emergentes atreladas ao real enfrentaram pressão. Esse movimento evidencia parte da complexidade do fluxo entre risco global, câmbio e investimentos no Brasil.

Os investidores, com apetite renovado por riscos nos EUA, tendem a realocar recursos, o que pode afetar negativamente os ativos brasileiros negociados no exterior. Por sua vez, essa dinâmica tem implicações para o real e para outras moedas emergentes vinculadas ao Brasil.

A seguir, explico os fatores por trás dessa movimentação, seus efeitos e o que pode vir a seguir, com base nas análises mais recentes.

O que está por trás da pressão sobre o EWZ

O iShares MSCI Brazil ETF (EWZ) representa uma parcela significativa dos ADRs (recibos de ações brasileiras) negociados na Bolsa de Nova York.
Quando há uma virada nas bolsas de Nova York por exemplo, com correção de ativos de risco ou busca por refúgio os investidores tendem a retirar parte dos recursos aplicados em ETFs emergentes, como o EWZ.

Além disso, há risco cambial: embora o EWZ seja negociado em dólares, suas empresas subjacentes estão em reais. Se o dólar se valoriza frente ao real, os retornos para investidores estrangeiros podem ser afetados.

Nos últimos meses, o EWZ registrou fluxo positivo: segundo a Bloomberg Línea, entrou o maior aporte semanal em cinco anos. No entanto, essa entrada de capital pode se inverter rapidamente se o apetite por risco global mudar ou se os investidores reavaliarem a exposição ao Brasil.

Como a virada de Nova York afeta moedas emergentes atreladas ao real

Quando os investidores recuam de ativos emergentes, não há impacto apenas nos ETFs como o EWZ, mas também nas moedas pares do real, ou seja, moedas de países emergentes que tendem a se movimentar de forma correlacionada ao real brasileiro.

LER MAIS:  Ibovespa supera 155 mil pontos com fim próximo do shutdown nos EUA

Isso porque, em momentos de risco, o fluxo de capitais pode ser redirecionado para ativos considerados mais seguros, fortalecendo o dólar globalmente. Essa saída de recursos pode depreciar o real frente ao dólar — ou, dependendo da dinâmica, pressionar as moedas emergentes pareadas.

Também é relevante o comentário de analistas da StoneX, que já identificaram em determinados momentos um fluxo atípico de câmbio associado ao reequilíbrio do EWZ, o que leva o Banco Central brasileiro a vigiar possíveis intervenções no mercado de câmbio.

Situação recente e dados principais

  • O EWZ acumulou alta de cerca de 34% em 2025, segundo a Bloomberg Línea, impulsionado por aportes expressivos.
  • Segundo a BlackRock, o patrimônio líquido do ETF está em torno de US$ 6,43 bilhões.
  • Seus principais holdings incluem grandes empresas brasileiras, como Vale, Itaú, Petrobras, entre outras, conforme o factsheet da BlackRock.

Riscos e possíveis desdobramentos

  1. Exposição cambial: se o real enfraquecer ou se houver pressão no câmbio, os retornos do EWZ para investidores internacionais podem se deteriorar, desencadeando novas vendas.
  2. Fluxos voláteis: aportes recentes podem ser revertidos em ciclo negativo, especialmente se o mercado de risco global se retrair.
  3. Intervenção cambial: o Banco Central pode atuar se identificar desequilíbrios fortes no câmbio, especialmente se vinculados a saídas abruptas causadas por ETFs como o EWZ.
  4. Expectativas de política monetária: cortes de juros no Brasil podem atrair investidores para ativos locais, mas incertezas externas (por exemplo, nas taxas dos EUA) podem minar esse movimento.

Cenários futuros e perspectivas

  • Se os aportes em ETFs como o EWZ continuarem fortes, isso pode atrair mais capital para ações brasileiras no exterior, fortalecendo o real ou pelo menos reduzindo a pressão cambial.
  • Caso haja reversão desse fluxo por exemplo, com aversão ao risco nos EUA pode haver nova depreciação do real e impacto nas moedas emergentes correlacionadas.
  • A continuidade das intervenções cambiais pelo Banco Central brasileiro pode servir como freio à volatilidade, mas isso depende de como os mercados interpretam a intenção e a capacidade de defesa do real.
LER MAIS:  Embraer (EMBR3) anuncia distribuição de R$ 66,9 milhões em JCP

A recente virada nos mercados dos EUA está gerando efeitos colaterais importantes para o Brasil: o ETF EWZ recua, enquanto moedas emergentes pareadas ao real sofrem pressão. Esse fenômeno é resultado de um movimento mais amplo de realocação de capital global, combinado com as peculiaridades cambiais e de fluxo de investimento brasileiro.

Muito dependerá do apetite por risco global, dos fluxos para ETFs emergentes e das ações do Banco Central para conter volatilidade cambial.

Deixe um comentário

Demonstre sua humanidade: 8   +   6   =