Inadimplência histórica no agro pressiona lucro do Banco do Brasil

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Por Jhonatan Santos

A presidente do Banco do Brasil, Tarciana Medeiros, afirmou que o índice de inadimplência no setor do agronegócio atingiu o patamar mais alto já registrado na história da instituição, causando forte impacto nos resultados do segundo trimestre de 2025. O lucro líquido ajustado caiu cerca de 60 %, refletindo um cenário desafiador, marcado por juros elevados, provisões mais robustas e revisão de projeções financeiras.

Em videoconferência, a executiva explicou que o banco passou a adotar uma postura mais rígida, judicializando cobranças que antes eram tratadas com mais flexibilidade. Esse movimento, aliado à elevada taxa Selic de 15 % ao ano, elevou o nível de calotes na carteira agro.

Indicadores financeiros sob pressão

O lucro ajustado no 2º trimestre de 2025 foi de R$ 3,784 bilhões, queda de aproximadamente 60 % em 12 meses e de quase 49 % em relação ao trimestre anterior.
O ROE (Retorno sobre Patrimônio Líquido) despencou para 8,4 % — o menor índice desde 2016 — frente a 21,6 % no mesmo período do ano anterior.
As provisões para perdas de crédito somaram R$ 94,7 bilhões, alta de cerca de 51 % em um ano.

O impacto no agronegócio

A inadimplência na carteira agro chegou a 3,49 %, aumento de 2,17 pontos percentuais em doze meses.
O valor total de operações agro inadimplentes atingiu R$ 2,73 bilhões em junho, cerca de 1 % da totalidade da carteira, mas com expectativa otimista de apenas 1,9 % — mostrando como o desempenho superou as projeções negativas.
Entre os cerca de 600 mil clientes agro, 20 mil estão inadimplentes — e 74 % deles nunca haviam tido dívida jurídica com o banco até dezembro de 2023.

Medidas e projeções futuras

Diante do quadro, o Banco do Brasil intensificou a judicialização de cobranças, contando com uma força de trabalho especializada de cerca de 800 funcionários.
Para o Plano Safra 2025/2026, a instituição reservou R$ 230 bilhões em crédito agro.
A empresa revisou o guidance para 2025: agora projeta lucro líquido ajustado entre R$ 21 e 25 bilhões (antes estimado entre R$ 37 e 41 bilhões).
A expectativa é que o terceiro trimestre permaneça “estressado”, mas com melhora a partir do quarto trimestre, impulsionada pela expansão da margem financeira bruta.
O CFO Geovanne Tobias afirmou que o banco visa retorno de acionistas em patamares de dois dígitos baixos em 2025, com perspectiva de retomar níveis médios a altos (mid- to high-teens) em 2026.

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Listagem de dados-chave

IndicadorValor Atual
Lucro líquido ajustadoR$ 3,784 bi (–60 % a/a)
ROE8,4 % (menor desde 2016)
Inadimplência no agro3,49 % (acréscimo de 2,17 p.p.)
Provisões para perdasR$ 94,7 bi (+51 %)
Carteira de crédito agroR$ 2,73 bi inadimplentes
Clientes agro inadimplentes20 mil (74 % sem histórico de dívida)
Guidance de lucro 2025R$ 21–25 bi (antes R$ 37–41 bi)
Ações judiciais ativadas~800 funcionários dedicados

Perspectivas

O Banco do Brasil enfrenta um momento desafiador, com inadimplência histórica no agronegócio pressionando os resultados. Apesar disso, a instituição responde com maior rigidez na cobrança, revisão de projeções e reforço na estrutura de gestão de risco. A expectativa é de que o quadro comece a se estabilizar a partir do 4º trimestre de 2025, com retomada gradual da rentabilidade em 2026. A prudência adotada busca resguardar a robustez financeira e preparar o banco para um crescimento sustentável.

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